Essa matéria “começou” de um modo
inusitado. Ao ver um anúncio no ML com a coleção completa de Pato Donald a mais
de R$ 100.000,00, comentei com minha esposa, que me perguntou imediatamente: vc
já tem uma pequena fortuna em gibis? Eu chutei um valor lá pra ela e depois me
toquei que talvez tenha muito mais... pensei então em tentar trazer algumas
informações sobre o valor gasto pelos colecionadores em gibis, ao longo do
tempo.
Assim, comecei
esse meu “estudo” analisando o quanto um colecionador gastou em quadrinhos
Disney pela Abril, nos últimos 04 anos. Os resultados mostram a evolução desses
quadrinhos, e confesso que não me surpreenderam.
Considerando
apenas os quadrinhos tradicionais da Abril, vê-se um claro aumento no número de
títulos e totais gasto a cada ano, evidenciando a evolução da linha no último
quadriênio. Os números apresentados para 2012 são equivalentes ao mínimo já
confirmado (Essencial Disney, especiais até Disney Futebol 2012, Mega Disney e
Disney Jumbo #2), considerando que as linhas já existentes (6 mensais,
almanaques bimestrais e semestrais, Disney big e férias/extras, além do Natal
Disney de Ouro) não sejam canceladas.
Dividi então
as revistas Disney em 07 grupos para tentar evidenciar que grupos mais
contribuem para depenar o preço do consumidor. São eles:
1 – Tijolos –
Revistas grandes de republicações – Disney Big, Mega Disney e Disney Jumbo.
2 – Mensais –
As 6 mensais existentes mais Aventuras Disney.
3 – Almanaques
4 – Férias/Extras
5 – Especiais e
temáticos – Incluem-se nesse grupo Natal Disney de Ouro, especiais de personagens
(Escoteiros mirins, Superpato, Donald Duplo), especiais comemorativos (Paul Murry)
e especiais temáticos (Disney Futebol 2012, A História de Patópolis), incluindo
minisséries (Disney Gol), dentre outros (Epic Mickey).
6 – Coleções especiais
– Inclui coleções com muitos volumes. Nestes 5 anos tiveram essa característica
PFH, CLD, OMD e Essencial Disney.
7 – Extintas não
mensais – Revistas que tinham periodicidade definida e não se enquadravam em
nenhuma das categorias acima, tendo sido canceladas. Até o momento, tem-se
nessa categoria Minnie Pocket Love, Pura Risada e Disney Gigante.
O gráfico abaixo
mostra o preço por ano de cada grupo, permitindo que o leitor possa concluir
algumas coisas:
a) Há
um incremento na linha de gibis grandes com republicações, que, devido ao baixo
custo de produção, pode trazer um lucro significativo. Esse lucro pode ajudar a
editora a subsidiar outros lançamentos.
b) Baseado
no sucesso de CLD, o ano de 2011 trouxe o mesmo montante de gasto em coleção
especial ao consumidor. Apenas no
primeiro semestre de 2012, o gasto nesse tipo de material atinge 2/3 do gasto
em 2011. Deve vir mais por aí.
c) Depois
de uma curva descendente entre 2008 e 2010, devido ao cancelamento de Aventuras
Disney em meados de 2009, o número de mensais vem subindo, com a inserção de
Pateta e Minnie. Tá faltando a assinatura delas...
d) Em
2010 e 2011 a Abril tentou introduzir novas revistas, que não vingaram. Desde o
primeiro semestre de 2011 o pensamento parece ser outro, e “revistas teste”
tiveram seu espaço reduzido. Aparentemente, as novas mensais e os almanaques
foram considerados como investimentos mais rentáveis pelos responsáveis pela
linha.
f) Os especiais, que começaram em 2009 mas ficaram em stand by no ano de 2010, devido ao lançamento de CLD, foram bem retomados em 2011, e, em uma previsão realista, em 2012 devem alcançar um patamar maior em termos de peso no total de quadrinhos Disney lançado durante o ano.
Em 2011, a
distribuição de quadrinhos por grupo (em termos de preço) foi a seguinte:
Em 2011, a
distribuição de quadrinhos por grupo (em termos de número de edições) foi a seguinte:
Os gráficos
mostram que os grupos de coleções e mensais, em 2011, tiveram um valor
equivalente a 60% do valor total da linha. Em termos de números de edições, os
dois grupos juntos mantiveram um percentual alto, de 62%. Assim, dos R$ 850,60
que a linha lançou em 2011, R$ 505,40 foram através desses dois grupos, que
totalizaram 92 das 148 edições lançadas no ano.
Os almanaques,
especiais temáticos e republicações corresponderam a pouco mais de 10% da linha
(em termos de preço) cada.
Um outro dado
interessante é o peso, em número de edições, daqueles grupos com preço baixo. O
grupo de férias e extras, com revistas de R$ 1,95, equivaleram a 10,8% das
edições lançadas no ano. Assim, aproximadamente 1 a cada 10 gibis Disney
lançados pela Abril tem um custo bastante baixo, o que contribui para o aumento
de leitores eventuais, principalmente crianças.
Os grupos de
mensais e almanaques são outras com preço baixo: R$ 3,34 e R$ 4,95 por edição,
aproximadamente. Juntos, esses três grupos correspondem a 2/3 do número de
edições lançadas no ano (100 de 148).
Para aquele
consumidor que prefere muitas páginas por um preço mais justo, o grupo que
denominei “tijolos” supre essa demanda. As revistas Disney Big e Disney Jumbo,
com suas mais de 2.000 páginas lançadas em 2011, saem a um preço bem
convidativo, com um preço que varia de 3 a 4 centavos de reais por página. Um
outro lançamento da Abril, já em 2012, é Mega Disney, que terá 800 pgs de
quadrinhos a R$ 19,95 (custo de 2,5 centavos por página).
Trarei
futuramente um estudo mais elaborado sobre isso, mas para se comparar, a linha
Disney tem revistas com preços que variam de 2,5 até 10 centavos por página.
Pois bem,
considerando apenas a Abril, um colecionador que comprou tudo que saiu apenas
da linha tradicional (sem Pixar, que será analisada em outro post) gastou R$
2.182,45 entre 2008 e 2011. Muito dinheiro, pouco dinheiro, o que os fãs acham?
Considerando
apenas o que já está confirmado, o consumidor gastaria, em 2012, R$ 789,25.
Isso já equivale a 93% do que foi gasto em 2011.
Vamos a uma
breve simulação: os grupos de almanaques, mensais e tijolos farão o consumidor
gastar R$ 131,70 a mais, NO MÍNIMO, em relação a 2011. Desconsiderando R$ 30,85
das extintas em 2011, e considerando o mesmo gasto em especiais, coleções e
férias/extras de 2011, teríamos que gastar R$ 951,45 em 2012. Ora, nessa
simulação teríamos apenas R$ 98,50 a gastar com coleções e R$ 63,70 com
especiais no segundo semestre. Isso parece pouco perto do que esses grupos
parecem ter para oferecer esse ano, de acordo com entrevistas do editor, Paulo
Maffia, no fim de 2011 e início de 2012.
A meu ver, só
uma coisa pode nos tirar a chance de poder comprar R$ 1.000,00 em 2012 apenas
na linha de quadrinhos tradicionais Disney lançada pela Abril: a SETORIZAÇÃO,
que já está fazendo as vendas caírem... mas isso é assunto pra outro post.
Muito bom levantamento, Sergio.
ResponderExcluirAcho que o preço é mais ou menos baixo: no geral as revistas estão com preços adequados, mas duvido que os almanaques fiquem muito tempo a 4,95, por exemplo. Até porque alegadamente estão "tratando" histórias antigas/obscuras, então o custo aumenta.
De qualquer modo, o problema são os especiais: se as mensais, almanaques, gibizinhos (Extras/Férias) e até os tijolões saem por preços BASTANTE compreensíveis e compensatórios, os especiais estão saindo MUITO caros, por qualidade nem sempre muito boa: Essencial Disney fininha e com três ou quatro italianas apenas sai por 10 reais, 10 centavos por página; o novo especial de futebol PASSOU DOS DEZ REAIS; também o dos Escoteiros Mirins ano passado saiu caríssimo, mesmo com papel ruim.
Precisa ver isso. No mais, os preços estão justos e suportáveis.
Eu concordo integralmente contigo Filipe. Acho que está havendo sim um inflacionamento dos gibis que chamei de "especiais" e "coleções". Quem de nós, ao terminar de ler Essencial, acha que valeu a pena pagar 10 reais... acho que poucos? Além do mais, essa coleção particularmente, traz HQs italianas, que, segundo meu critério de "valoração do número de pgs", ocupam muito espaço para pouca informação. Ou seja, é como se estivéssemos, por 10 reais, pagando por umas 60 ou 70 pgs se a HQ fosse no "estilo dinamarquês", que é o "padrão".
ExcluirSobre escoteiros e futebol, eu tb acho que houve um aumento sem necessidade. Escoteiros tinha papel bem fino, e especial futebol traz o mesmo número de pgs de disney gol, a mesma temática, uma relação parecida entre inéditas e republicações, aparentemente mesma capa, por 2 reais a mais... é muito.
Sobre os almanaques, acho as melhores revistas, pena que estão começando a usar HQs do arquivo digital. Acho que mereceriam assinatura já!
Longe de mim defender a setorização. Analisando as informações desta postagem percebi que a maioria dos leitores de quadrinhos Disney no Brasil não participa de todo esse banquete, ou seja, os colecionadores não são a maioria do público. Destinar R$ 700,00 ou R$ 900,00 anualmente para quadrinhos é mesmo para poucos, isso representa o 13º salário de muitas famílias brasileiras. Mas, como bem disse o amigo, estamos falando de "Quanto custa colecionar Disney?", e isso nos leva direto à figura do colecionador que compra praticamente tudo o que pode. Penso que a editora Abril não visa diretamente o colecionador, nem poderia ser assim. Então o que resta? Vendas uma a uma, picadinho, leitor que compra um mês e não compra no outro, e depois volta a comprar. Talvez esse seja o perfil médio do leitor/consumidor em sua maioria. No meu modo de ver, a setorização freia o consumo mesmo no "primeiro setor" composto das regiões Sul/Sudeste, e fragmenta a vontade de comprar Disney no Brasil afora. Se a decisão de setorizar permanecer por mais 5 anos, a retração das vendas forçará o retorno ao padrão antigo, onde tínhamos apenas 4 ou 5 títulos mensais, os especiais e as coleções não se sustentarão a longo prazo sem a venda nacional. Voltando aos números apresentados, foi muito bom acompanhar o raciocínio e ver a evolução dos últimos 5 anos, e que isso sirva de alerta para a programação dos próximo quinquênio. Parabéns pela matéria, intrigante e informativa... Abs.
ResponderExcluirTenho enciclopedia Disney, 9 volumes. 1972. Interessa? Abraço
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